Relembrar a rica história de um dos principais prédios históricos de Pelotas. Esse é o objetivo do projeto Resgate da Memória do Grande Hotel, realizado por alunos de uma atividade de pesquisa do curso de Hotelaria da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O prédio completará nove décadas no próximo ano e a ideia é reviver parte de sua memória, para não deixar que fique perdida no tempo a riqueza afetiva pelo lugar. A parte estrutural segue à espera da tão desejada reforma, ainda presa a trâmites burocráticos.

Para isso, nos próximos dois sábados, os responsáveis pelo projeto estarão, das 14h às 19h, no saguão do Grande Hotel, esperando para ouvir as histórias que o público tem para contar. Pessoas que tenham vivido, trabalhado ou se hospedado no antigo hotel, ou até com outros tipos de histórias, serão bem-vindas para terem os relatos de suas memórias registrados. Contatos podem ser feitos também na secretaria do colegiado do curso de Hotelaria, localizado no próprio hotel, e pelo telefone (53) 3225-1892.

Ao final, a ideia é montar um compilado de lembranças para criar uma imagem do imóvel em suas diferentes épocas. O professor Pedro Mascarenhas, um dos responsáveis pelo projeto, conta que a memória muda muito, e captar a vivência e o imaginário das pessoas é o que faz a proposta ir adiante. “O pessoal lembra muito do Getúlio Vargas, que deu discurso lá, em uma sacada, mesmo que muitos nem tenham presenciado.”

Professor aposentado do curso de Física da UFPel, Paulo Krebs foi um dos hóspedes do Grande Hotel. Em 1978, aos 16 anos de idade, ficou lá por dois dias com a família. Na memória, o que mais se destaca é o saguão, que ele recorda ter achado semelhante a um salão de bailes, além da sacada do quarto, com vista para a praça Coronel Pedro Osório. No quarto onde ficou havia uma placa alusiva ao fato de o ex-presidente Getúlio Vargas ter se hospedado naquele mesmo cômodo. Alguns anos depois, ao contar a história para o sogro, que é pelotense, ele ficou sabendo que a sacada que o encantara na juventude é a mesma onde o político apresentou seu famoso discurso e que até hoje permanece vivo no imaginário dos pelotenses mais antigos.

No último ano Krebs visitou novamente o prédio. Decepcionou-se com o que viu. “A situação é crítica, a memória está se perdendo.” Ele comemorou o fato de o local ter recebido o curso, mas lamenta que até aqui a estrutura do Grande Hotel não tenha a devida atenção.

Também professor, Fábio de Bastos foi um dos últimos a se hospedar no imóvel. Em 2002 trouxe sua esposa, sua mãe e o companheiro dela para conhecer o Sul do Estado, e ficou quatro dias hospedado lá. Lembra-se com carinho da qualidade das camas de mola, do chuveiro elétrico e especialmente do antigo café. Afirma que até hoje visita a cidade, mas em nenhum outro local encontrou café tão bom. Quanto ao fechamento, recorda que no penúltimo dia percebeu que estavam praticamente sós no lounge, e um dos funcionários perguntou quanto tempo mais eles ficariam, pois o hotel iria fechar. “Pensei que fosse para alguma reforma ou algo assim. Não que fecharia mesmo. Ele era antiquado, mas tudo funcionava bem.” O trato dos funcionários é outro ponto que se destaca em suas lembranças. O carinho com o qual ele e seus familiares foram tratados até hoje é marcante para o professor da Universidade Federal de Santa Maria.

Memória
-O Grande Hotel teve sua obra iniciada em 1924, com projeto do arquiteto Teófilo de Barros, e foi inaugurado em 1928.
Permaneceu na ativa até 2002, quando fechou as portas e passou das mãos da família Zabaleta à prefeitura.
-Em 2012 o prédio foi doado à UFPel para tornar-se um hotel-escola, aberto ao público e sede do curso de Hotelaria.
Só a segunda parte do projeto está em prática. Hoje, as aulas ocorrem no turno da tarde, com a secretaria e o colegiado do curso também localizados no prédio.
-A visitação está aberta ao público, mas apenas no primeiro dos quatro andares, sempre em horário comercial.